Obituário para o gol fora: descanse em paz
Há 50 anos o Sporting eliminou o Rangers em cobranças de pênaltis na Recopa da Europa; o único problema é que o jogo não deveria ter ido para os pênaltis
Na última semana a UEFA anunciou que não utilizará mais o gol fora de casa como critério de desempate nos seus mata-matas europeus.
O critério foi introduzido pela própria UEFA, e adotado pela primeira vez na temporada 1965/66 na Recopa da Europa, o segundo torneio mais importante na época. A ideia era diminuir as prorrogações, e dois anos depois, foi adotado também no seu principal torneio, que hoje é a Champions League.
Todavia, não acabou com o insólito cara-ou coroa.
Em 1967, o Rangers eliminou o Zaragoza nas quartas da Recopa da Europa na moedinha, após dois resultados iguais; e em 1970, o Celtic passou pelo Benfica na Champions – o que agilizou a decisão por pênaltis, adotada a partir do ano seguinte.
A decisão por pênaltis que não valeu
Na Recopa da Europa de 1971/72, o critério do gol fora de casa já estava a pleno vapor (na Europa). Só faltava uma coisa: entender a regra.
Nas oitavas-de-final entre Sporting de Lisboa e Rangers, o time escocês venceu a partida de ida no Ibrox por 3 a 2, e na volta, em Portugal, foi 3 a 2 para o Sporting. Na prorrogação, cada time fez um gol (4 a 3 para o Sporting no total), e com o placar agregado no 6 a 6, o juiz ordenou decisão por pênaltis.
O Rangers não acertou nenhuma cobrança e o Sporting venceu, 3 a 0.
Até que o técnico do Rangers lembrou de um detalhe: o jogo não deveria ter ido para os pênaltis. A prorrogação era uma extensão do jogo de acordo com a regra, e no gol fora de casa, e o Rangers fez um a mais. O clube apelou para a UEFA ainda no vestiário, e a decisão foi revertida. Rangers classificado!
A decisão, porém, não foi rápida o suficiente e no dia seguinte o jornal em Glasgow chegou a escrever sobre a eliminação escocesa.
Curiosamente, o Rangers acabaria sendo campeão, o seu único título europeu, em uma final contra o Dínamo de Moscou.
Os ursos de Barcelona
No caminho para o título nas quartas o Rangers eliminou o Torino, na semi o poderoso Bayern (que em seguida seria tri-campeão alemão e europeu) e na final o Dínamo de Moscou (na primeira final europeia de um clube soviético).
Todos os clubes, claro, eram os atuais campeões das Copas nacionais.
Todos, menos o...Rangers.
O Rangers só disputou o torneio porque o Celtic, campeão da Copa da Escócia, também era o atual campeão do Campeonato Escocês – abrindo a vaga ao vice-campeão da Copa, Rangers, que não vencia a liga fazia nove anos.
A final foi jogada no Camp Nou e o Rangers venceu por 3 a 2. Nos últimos minutos, a torcida escocesa invadiu o gramado e o juiz encerrou o jogo. Ah, Europa!
(O Dínamo apelou, mas não levou).
A taça foi erguida pelo capitão do Rangers no vestiário.
Por Leandro Vignoli, um original da Corneta Press
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