O pequeno gigante de Riverside
Juninho foi o maior jogador do Middlesbrough e uma das primeiras estrelas brasileiras na Premier League. Sua passagem foi coroada com um título
*Por David Broome, excerto do livro The Little Fella: How Middlesbrough Fell in Love with Juninho, ainda sem publicação no Brasil
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TERCEIRO ATO
Essa história não começa em São Paulo, onde nasceu o nosso heroi, ou em Teeside, onde ele virou ídolo, ou Yokohama, no estádio da sua grande conquista. Estamos em uma fria noite de inverno em Cardiff, no Millenial Stadium, o palco das finais da Copa na Inglaterra entre 2001 e 2006. O público é de mais de 72 mil pessoas no luxuoso estádio de 121 milhões de libras. Cerca de 60 mil criaturas do norte inglês (30 mil torcedores do Bolton e outros 30 mil do Middlesbrough) , além de 12 mil convidados e executivos, provavelmente pensando que seria um jogo de rúgbi.
2004 foi um ano bissexto e o jogo foi nesse “dia a mais”, em 29 de fevereiro. Mas para um desses dois clubes a partida seria para sempre mais do que um “dia a mais”. Um deles seria o melhor time da Inglaterra – isso se você considerar essa distinção ao campeão da Copa da Liga Inglesa, o que é quase ninguém.
O Bolton era com folga o clube com mais tradição, mas é improvável alguém ainda lembrar das suas glórias nos anos 20 (quando venceram três vezes a FA Cup) ou a triunfante vitória na final de 1958, sobre o Manchester United, que ainda se recuperava do desastre aéreo de Munique, apenas três meses antes. E quanto aos alvi-rubros de Riverside? Bom, a sala de troféus é recheada com 55 títulos do condado de Yorkshire, uma Copa Kirin, além da Copa Anglo-Escocesa.
Várias conquistas, sem dúvida!
Mas se você gosta de senso comum, uma vitória na final seria o primeiro “título de verdade” do clube, desconsiderando aquelas “gloriosas” vitórias.
Então, era 29 de fevereiro de 2004 e o tempo de jogo marcava 48 minutos e meio do segundo tempo. Juninho recebeu a bola antes do meio-campo e sai em disparada dando um drible seco em Jay Jay Okocha, e cara a cara com o último zagueiro, balança para cá, e balança para lá, e o zagueiro caindo pra trás.
Caso isso fosse um filme seria uma cena provavelmente em câmera lenta, com uma narração dizendo “e foi assim que o lance decisivo surgiu na minha frente”.
Mas nesse filme o jogo ainda estaria 1 a 1, com o nosso heroi fazendo o gol da vitória. O que de fato aconteceu – já que não é um filme – é que Juninho perdeu a bola no último drible. E o Middlesbrough já ganhava por 2 a 1.
Teria sido um gran-finale, porém.
O juiz apitou o fim do jogo e a parte vermelha do estádio explodiu em euforia, e o nosso pequeno gigante de 1.68m bate palmas, e abre um sorriso do tamanho do mundo. Quatro anos antes ele foi campeão brasileiro; dois anos antes, campeão mundial com a Seleção. Mas agora, ele era campeão no Boro.
PRIMEIRO ATO: “o mundo inteiro está falando do Middlesbrough”
Juninho não chegou em Middlesbrough como um desconhecido. Ele tinha feito um golaço de falta para o Brasil contra a Inglaterra, em Wembley, num torneio chamado Umbro Cup – foi nesse jogo que Ronaldo marcou o seu primeiro gol na Seleção. O auxiliar técnico dos ingleses no jogo era Bryan Robson, que era técnico (e jogador!) do Boro, que acabara de subir à Premier League. Robson viajaria ao Brasil durante cinco dias, e por 7 milhões de libras, Juninho foi contratado.
A negociação foi intermediada por um agente italiano, e o Middlesbrough, na mesma viagem tentou contratar o Roberto Carlos – porém, com certa demora de um fax, foi para a Inter de Milão. No lugar, o Middlesbrough contratou o veterano Branco.
Na apresentação de Juninho, o responsável pela tradução era o ex-jogador e empresário Gianni Paladini (que anos depois seria o presidente do Queen’s Park Rangers), que era perfeitamente qualificado para traduzir o italiano (como o atacante Fabrizio Ravanelli), mas com português a história era outra.
“Uma família brasileira que conheci no aeroporto ajudou, porque segundo eles o intértrete não estava traduzindo o que eu dizia, e estava dizendo coisas da cabeça dele,” diz Juninho. “Eles me perguntaram quem ele era, pois uma vez ele traduziu faisão quando na verdade eu falei em feijão”.
Na época, a Premier League nem era transmitida no Brasil. Juninho não sabia nada sobre o Middlesbrough, como provavelmente mais ninguém. “O mundo inteiro está falando do Middlesbrough agora”, afirmou o técnico Bryan Robson.
Juninho estreou no meio da temporada, em novembro de 1995, contra os rivais Leeds United. Deu uma assistência de sinuca, e o jogo terminou 1 a 1. Após 92 anos, era a primeira temporada do clube jogando em seu novo estádio, Riverside. “A atmosfera aqui está lembrando a do Maracanã, tamanha é a empolgação com a estreia de Juninho”, diz o narrador no rádio.
Demorou seis jogos até Juninho fazer o seu primeiro gol, no rebote do goleiro em um 4 a 1 contra o Manchester City. O Middlesbrough chegou à quinta posição durante o Natal, mas acabou perdendo o gás e fechou a temporada fora do top 10. Na temporada seguinte, o Boro chegaria a duas finais, da Copa da Inglaterra contra o Chelsea; e da Copa da Liga Inglesa, contra o Leiceister. Acabou vice nas duas.
Mas àquela altura, porém, a Juninho-mania já estava consolidada.
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PRORROGAÇÃO – Coisas que valem a pena mencionar
A desorganização do calendário europeu....
Apesar das duas finais em 1997, o Middlesbrough foi rebaixado na Premier League após ser punido com três pontos por um W.O contra o Blackburn, pois alegou estar com 18 jogadores suspensos ou machucados. (O time ficou exatamente com dois pontos a menos do que o necessário na tabela).
Com o clube na segundona, Juninho foi para o Atlético de Madrid, onde teria a perna quebrada por Michel Salgado, ficando de fora da Copa do Mundo de 1998.
O segundo, o terceiro e a redenção
Juninho voltou ao Boro outras duas vezes, a primeira em 1999, com o Middlesbrough de volta à Premier League, onde ficou no meio da tabela. E a mais importante, logo após o penta na Copa do Mundo, em 2002.
Foi nessa passagem que ele finalmente ganhou o primeiro e único troféu na história do clube, em 2004, o episódio narrado acima na vitória contra o Bolton. A taça foi erguida por Gareth Southgate, o atual técnico da seleção da Inglaterra.
O legado brasileiro...
Já sem Juninho, que foi para o Celtic, Fábio Rochemback era o camisa 10 do Middlesbrough na final da Copa da UEFA, em 2006, quando o clube foi derrotado de 4 a 0 para o Sevilla de Luís Fabiano e Daniel Alves. Após Juninho, o clube ainda contratou Doriva (que estava em campo no título contra o Bolton), Émerson, o ex-Corinthians Ricardinho (que nunca jogou), e, claro, Afonso Alves.
Antes dos xeiques no futebol…
Foi nessa segunda leva de brasileiros que o Middlesbrough aplicou 8 a 1 no Manchester City, em 2008. Afonsão marcou três e Rochemback também deixou o seu - Elano descontou para o City. Bons tempos.
O melhor da história do clube
Juninho é considerado com folga o maior jogador da história do Middlesbrough, em eleição entre os torcedores do clube. Foram 34 gols em 131 jogos com a camisa do clube. Aqui todos os gols dele jogando pelo Boro.
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